Os Riscos da impermeabilização de Sofás
Sem orientação sobre riscos, dona de imóvel que explodiu acendeu fogão durante impermeabilização
“Uma das vítimas da explosão em um apartamento no Água Verde em junho, Raquel Lamb afirmou, em depoimento à Polícia Civil, que o acidente ocorreu logo depois que ela acendeu o fogão enquanto a impermeabilização do sofá era realizada em sua casa. Já o marido dela, Gabriel Araújo, também em depoimento, relatou que não recebeu a devida orientação de segurança da Impeseg, empresa que fez o procedimento no móvel.”
“O casal ficou internado no Hospital Evangélico Mackenzie, local em que foi tomado o depoimento pelo delegado Adriano Chofhi, da Delegacia de Explosivos. Armas e Munições (Deam). No acidente, um menino de 11 anos, Mateus Lamb, irmão de Raquel, foi arremessado do sexto andar e morreu. Os depoimentos foram divulgados pelo telejornal Boa Noite Paraná, da RPC.
À polícia, Raquel relatou que estava na cozinha e iria preparar um café. Ela então acionou o fogão, sentiu a explosão e caiu dentro do apartamento com o impacto. A suspeita é de que o produto usado para a impermeabilização do sofá criou uma “nuvem” dentro do apartamento, que, com o acionamento do fogão, gerou a explosão.
Já Araújo relatou no depoimento que em nenhum momento o técnico Caio Santos, que também segue internado, solicitou que os moradores deixassem o local. Segundo ele, também não foi mencionado o risco que o serviço oferecia, caso fosse acionado algum interruptor e também que não foi questionado sobre quantas pessoas estavam na casa.”
“Os funcionários da Impeseg, afirmam em depoimento à Polícia Civil que não sabiam que o produto usado era altamente inflamável. Um deles diz que chegou a fumar dentro do carro enquanto levava o material até a casa de um cliente.
“Em depoimento à Delegacia de Explosivos, Armas e Munições (Deam), da Polícia Civil, o supervisor de serviço Heverton Gesse da Costa Skau, de 24 anos, disse que a empresa não fornecia os equipamentos de proteção individual (EPI) e que não havia nem mesmo treinamento para a aplicação do produto.”
“Skau foi contratado 15 dias antes do acidente para cuidar de toda a parte operacional do serviço e supervisionar os demais funcionários. Ele afirma que nem sequer sabia direito como a aplicação era feita. Conforme declarou à polícia, foi o aplicador Caio Santos, um dos feridos na explosão, quem ensinou como o sistema funcionava. Ainda de acordo com o supervisor, em momento alguns os donos da empresa, o casal Bruna Formankuevisky Lima Porto Correa e José Roberto Porto Correa, falaram sobre riscos.”
““O máximo de alerta que fizeram para a gente era que o cheiro do produto era forte”, disse Skau à Gazeta do Povo. “Ainda na sexta-feira [21 de junho, uma semana antes da explosão], antes de eu sair com o Caio, perguntei se podia fumar dentro do carro com o produto dentro e ele disse que era para ficar à vontade”, afirma.
“Segundo Skau, ninguém além dos donos da Impeseg sabia quais eram os produtos usados para a impermeabilização dos sofás. O supervisor conta que a empresa não fornecia as notas fiscais do material, que era guardado sem rótulos de identificação em uma sala do lado do refeitório.”
“Além disso, Skau diz que foi contratado para supervisionar as impermeabilizações mesmo sem possuir curso técnico em segurança do trabalho. Antes de ir para Impeseg, ele trabalhava em uma rede de restaurantes de Curitiba.
“Eu era supervisor e fiz um curso de bombeiro na Cipa”, conta Skau, em referência aos treinamentos oferecidos pela Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) de seu antigo trabalho. “Toda a experiência que eu tenho na área de supervisão, gestão administrativa e operacional e EPI veio de lá”, ressalta.
Falta de equipamentos
Ainda no depoimento, o supervisor disse que, após o acidente no apartamento, recebeu uma ligação da dona da empresa, Bruna Formankuevisky Lima Porto Correa, pedindo para que dissesse que a Impeseg fornecia todos os EPIs necessários para o serviço. No entanto, segundo ele, a realidade era bem diferente disso.
Segundo Skau e outros funcionários ouvidos pela reportagem, a empresa tinha somente uma única máscara de proteção contra produtos químicos para todos os 11 técnicos que faziam os serviços de impermeabilização. Além disso, faltavam luvas, botas e óculos de proteção.
“Quando cheguei na empresa, comecei a pressionar para a compra de material de EPI e eles falaram que o foco não era isso, que o foco era a expansão da empresa e que somente depois viria esse aprimoramento”, conta o supervisor.
A reportagem procurou nesta sexta o advogado do casal dono da Impeseg, Roberto Brzezinski, mas não conseguiu contato. No escritório do advogado, foi informado que ele estaria viajando. A reportagem tentou contactá-lo pelo celular, mas não obteve sucesso.
Brzezinski acompanhou os donos da empresa no depoimento à Deam terça-feira (2). Na oportunidade, ele disse que as instruções de segurança e o método de aplicação foram ensinados e que as declarações por parte do supervisor são infundadas.
De acordo com o advogado, com apenas 11 dias de empresa ele não teria conhecimento sobre os procedimentos adotados na Imperseg.
Feridos
Além do aplicador, segue internado o casal que mora no apartamento, todos no Hospital Evangélico Mackenzie.
Caio Santos teve 65% do corpo queimado e está em estado grave na UTI. Raquel Lamb, 23 anos, é irmã do menino que morreu e teve 55% do corpo queimado. Ela também está em estado grave na UTI. O marido de Raquel, Gabriel Araújo, 29 anos, teve 30% do corpo queimado, mas fora UTI.
De novidade do quadro clínico, Caio e Raquel deixaram de respirar por aparelho.