Brasil é oásis para energia solar. Por que ainda não está bombando aqui?
O Brasil tem forte incidência de sol e muito espaço para uso de placas solares. Portanto, é um lugar perfeito para a geração de energia solar. Por qual motivo não há tantas iniciativas do tipo por aqui?
Mesmo não sendo tão comum no nosso dia a dia, a energia solar já é a segunda maior fonte de energia do Brasil, segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) —na frente está a hidrelétrica. O país, no entanto, tem grande potencial para crescer nessa fonte limpa.
Veja alguns aspectos da energia solar no Brasil:
1 – Preço alto
A principal questão é que ainda é algo caro para se ter em casa. Segundo o professor do curso de engenharia elétrica do IMT (Instituto Mauá de Tecnologia) Edval Delbone, um projeto pode ter custo elevado.
Uma placa custa R$ 600 –dependendo da casa, você coloca umas oito [totalizando R$ 4.800]. Você precisa ainda de um inversor [um aparelho que converte corrente contínua obtida do painel solar para alternada, usada na rede elétrica], que custa por volta de R$ 3.000. Contando ainda fiação, disjuntor e mão de obra, você gasta pelo menos R$ 10 mil.
Edval Delbone, professor do IMT
O preço de placas solares, no entanto, está em queda. Segundo Rodrigo Garcia, gerente de P&D (pesquisa e desenvolvimento) da BYD Energy, companhia chinesa que tem uma fábrica em Campinas de painéis fotovoltaicos, houve redução de 20% no valor final nos últimos dois anos.
2 – Dependência da rede elétrica convencional
É difícil que alguém consiga deixar de pagar completamente pela energia em casa, pois a geração de energia solar está condicionada ao sol. Então, obrigatoriamente você precisa ficar conectado à rede elétrica para não passar aperto à noite. Uma saída seria ter um sistema de bateria para armazenar essa energia (e não precisar da rede), mas isso pode ser muito caro para residências.
Há ainda uma taxa para transmitir a energia solar excedente gerada na sua casa para outros lugares. Desde janeiro do ano passado, começou a chamada cobrança do fio b, uma taxa para uso do sistema de distribuição de energia, de 15% sobre o que é gerado, e que vai ser escalonado nos próximos anos.
Governo deveria ter políticas públicas para o ramo, mas há dificuldades de financiamento. “Em um cenário de grande endividamento das famílias brasileiras, a concessão de crédito fica bastante restritiva”, diz Bárbara Rubim, vice-presidente da Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica), que ressalta as vantagens do modelo: além de gerar energia limpa, poderia reduzir os custos com energia elétrica, estimular a geração de emprego e movimentar a economia local.
3 – Fora da cadeia de valor
Boa parte do processo é feita fora do país, ainda que o Brasil seja ótimo para energia solar e tenha até fábricas locais.
O país exporta o silício [matéria-prima para construção de placas fotovoltaicas] para a China. Lá, ele é enriquecido e passa por todo um processo industrial, até se tornar uma célula fotovoltaica. A gente precisaria de uma política industrial para conseguir fazer este processo aqui.
Bárbara Rubim, vice-presidente da Absolar
Dominar ou, pelo menos, fazer parte da cadeia produtiva é importante para o Brasil por vários motivos, diz Rodrigo, da BYD Energy. Segundo ele, a demanda por energia só tende a crescer (ainda mais com a popularização de carros elétricos) e ter independência tecnológica movimentaria a economia, melhorando tanto o mercado interno como exportações.
O aquecimento global deve resultar em menos chuvas, o que deve mudar a bandeira tarifária, aumentando a conta de luz. Sem contar que fazer novas hidrelétricas na atualidade é complicado. Chegaremos a um ponto em que energia solar não vai ser desejo, mas necessidade.
Rodrigo Garcia, gerente de P&D (pesquisa e desenvolvimento) da BYD Energy
A BYD Energy anunciou recentemente o investimento de R$ 65 milhões em um laboratório em Campinas. O espaço vai estudar a viabilidade do desenvolvimento de módulos fotovoltaicos.
Vantagens: investimento de volta e miniusina
Existe retorno com a economia que a pessoa tem em conta de luz, apesar do investimento inicial alto. A avaliação é de Bárbara Rubim, vice-presidente da Absolar. “Em 5 anos, esse investimento vai se pagar, sendo que essa instalação dura por pelo menos 25 anos”, afirmou. Após esse período, as placas perdem eficiência e é recomendável trocar por novas.
Geração de energia solar em residência permite usar na sua casa e transmitir para a rede. É como se fosse uma usina. Com isso, a pessoa ganha créditos e reduz a conta. O nome disso é geração distribuída. Atualmente, a energia solar representa cerca de 14% da matriz brasileira, sendo 4% gerado em usinas solares dedicadas, e o restante é geração distribuída ou microgeração (como a que ocorre em residências). Segundo a Aneel, há dois milhões de sistemas instalados, beneficiando mais de 3 milhões de pessoas.